sábado, 23 de janeiro de 2010

Depois do último ato


Foi tudo tão rápido que parecia uma alucinação. Mas foi real, e foi incrivelmente intenso. Uma situação totalmente inusitada.
Terminou o espetáculo, aplausos, cumprimentos, fotos, aos poucos o teatro foi ficando vazio e eu continuava lá, extasiada pelo sucesso da estréia. Eu não era a estrela da peça, mas brilhei, e fui contaminada por um prazer indescritível ao emocionar a platéia com a dramaticidade da minha personagem, que parecia sangrar quando explodia seus sentimentos até a morte. Morria de tristeza no abandono de seu leito, mas fazia renascer a atriz por tanto tempo adormecida.

Eu estava lá, a espera não sabia exatamente de que. Mas não estava só.
Ao longe, me observando, estava um dos cenógrafos da peça que nos acompanhava em todos os ensaios. E que, em silêncio, me observava e desejava sem que eu jamais desconfiasse até aquele momento.
Jogou um foco de luz sobre mim e pediu lá de cima:

- Faz pra mim a tua última cena, me dá de presente o teu último suspiro, nunca te vi tão bela!

Não tive coragem de dizer não, afinal, além de ser muito prazeroso encenar, saber que estaria atendendo ao pedido de um fã me fazia ainda mais feliz. Era meu primeiro fã declarado, e talvez o mais fiel.
Fiz. Vesti a personagem, e encenei como se o teatro estivesse lotado. Tão concentrada que não o notei chegando por trás.
Ao terminar a cena, no chão, de olhos fechados, senti suas mãos entre minhas pernas. Fiquei surpresa, mas de certa forma já esperava por isso. Deixei que me tocasse e não abri os olhos.
Ele continuou. Sentou-se ao meu lado no palco, uma das mãos apoiada no chão enquanto a outra me penetrava deliciosamente.

Nenhuma palavra.
Despiu-me lentamente, e beijou cada parte do meu corpo, como num ritual. Acariciava e beijava com idolatria, como se adorasse a um deus ou uma deusa.
Sugou-me até que chegasse ao gozo, parecia faminto. Abocanhava meu sexo com voracidade, e penetrava com a língua como se quisesse tocar meu útero. Com as mãos, ora me apertava, ora me penetrava os dedos.
Em nenhum momento tocou-se ou se despiu. Apenas adorava-me, como se o palco fosse o meu altar. Beijava meu corpo, lambia minha pele, sugava meus seios, meu sexo, penetrava os dedos, e me olhava extasiado.
Ergueu seu corpo suado e me pediu, num tom dionisíaco, como se estivesse encenando uma tragédia grega:

- Permita-me, deusa dos meus devaneios, que eu desembanhe minha espada e crave meu aço, na fenda pulsante que o meu corpo desafia, ao destilar o teu mel e impregnar-me com o odor das tuas entranhas!

Sou uma atriz dionisíaca, totalmente apaixonada pelas tragédias gregas, amante dos exageros e das exacerbações da alma, especialmente das almas apaixonadas. Resistir seria impossível.
Respondi:

- Ah, guerreiro impiedoso, que num sobressalto me toma, que escolha tenho eu diante do poder de teu aço e do apetite que te consome, senão abrir-te a fenda encharcada e entregar-te meu mais precioso segredo?
Vem, crava-me e consome a tua fome!

Despiu-se, deitou-se sobre mim, penetrou seu membro totalmente teso nas minhas carnes abrindo-me as pernas e urrando como um guerreiro que ergue a espada, glorifica a sua guerra e dá graças pela vitória.
Devorou-me, literalmente. Mordia e apertava meu corpo numa ânsia incontrolável, penetrava-me com força, profundamente, sem parar. Ao mesmo tempo que aquilo me assustava, era impressionante o prazer que eu sentia. Deixei que se fartasse, e me fartei daquele homem que por tanto tempo esteve perto de mim, mas que só agora se fazia notar.

Ah, se a platéia soubesse o que se passaria após o último ato!

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