sábado, 23 de janeiro de 2010

Uma ressaca com gosto de banquete


Nunca me senti tão invadida como naquela noite. Seus olhos não se desviavam, os lábios pareciam salivar o tempo todo e meu corpo arrepiava estranhamente, como se um veludo macio roçasse a minha pele. Tentei desviar os olhos, dar atenção aos outros convidados, mas sempre era surpreendida por aquele olhar fulminante.
Era como se me despisse diante de todas as pessoas presentes no salão.
Busquei um lugar que não fosse acessível aos seus olhos, que me resguardasse do assédio, pois não havia como não me considerar sendo assediada descaradamente. Havia um hall, fora da área da festa, reservado e pouco iluminado, sem sinais de acesso dos convivas. Peguei uma taça de vinho e parei por ali, coração acelerado, respiração ofegante, arrepios estranhos num misto de medo e ansiedade.
Foi quando uma voz macia e muito suave, vindo por trás, tomou-me de assalto:

- Sente-se bem? Precisa de ajuda?

Virei-me com certo receio.
O vestido preto colado ao corpo, era discreto mas muito sensual.
Delineava as formas perfeitas, sugeria, através do decote não muito profundo, seios pequenos mas bem desenhados e marcava levemente os mamilos pequeninos. Seus cabelos eram negros e longos, os lábios carnudos e os olhos pareciam duas pérolas negras.
Devo ter deixado transparecer minha ansiedade, pois ela me sorriu com certa ironia, perguntando:

- Assustei você? Está esperando alguém?

e continuou:

- Ah, que deselegância a minha, estou sendo inconveniente. Me
desculpe.

Virou-se na intenção de se retirar, respondi meio sem saber o que estava fazendo:

- Não, claro que não, fique. Estava apenas tentando fugir um pouco do barulho.

Sorriu novamente, e foi chegando mais perto. Bem perto. Sussurrou ao
meu ouvido:

- Eu também prefiro os sons mais suaves, os lugares mais reservados,
as companhias mais doces - disse isso e deixou que seus lábios
roçassem o meu pescoço.

Nossos olhares se encontraram, e antes que palavra alguma fosse proferida, passou a língua nos meus lábios e me beijou.
Retribui o beijo, o mais doce e delicado que já experimentei. Meu corpo respondia a cada movimento, minhas pernas estavam trêmulas, as mãos suadas, meu sexo úmido e pulsando como se tivesse urgência em ser tocado.
Deixei minha taça sobre um pequeno aparador, e coloquei minhas mãos sobre as suas, que acariciavam meu pescoço sob os cabelos. Ela se aproximou ainda mais, colou seu corpo no meu, nossos seios se tocaram, sentimos os mamilos endurecidos, e nos beijamos novamente.
Sua língua parecia uma labareda que me fazia arder, nossas bocas se devoravam, desceu suas mãos, apertou minha bunda e me pressionou contra a parede, esfregando-se em mim enquanto nos beijávamos.
Desci minhas mãos e repeti o mesmo movimento, apertava com força e sentia seu sexo quente, pulsante, buscando o meu. Ficamos ali por alguns minutos, nos esfregando e beijando como se o mundo tivesse parado e nós estivessemos no comando de tudo.

Foi quando uma voz grave e bem masculina nos acordou do transe:

- Alguém viu minha Amanda por ai? Onde se meteu essa guria?

Nos separamos num susto, ela limpou o batom borrado, ajeitou o vestido, os cabelos, limpou o borrado dos meus lábios, passou as mãos sobre os meus cabelos e falou com a voz doce mas acelerada:

- Tenho que ir, ELE tá me procurando - soltou uma gargalhada irônica, e continuou - pode deixar que te encontro, sempre encontro.

Fiquei sem ar, sem palavras, sem entender nada.
Agarrou-se no pescoço de um senhor que aparentava ter idade pra ser seu avô, cabelos grisalhos, óculos, bengala, porte elegante sob um andar lento mas orgulhoso.

- To aqui paizinho, sua Amandinha tá aqui. Beijou-o ternamente na testa, segurou em seus braços e deixaram a festa.

Não sei exatamente como cheguei em casa, depois disso tudo peguei uma garrafa de vinho, sentei-me no degrau de uma escada e enchi uma taça. Depois da primeira, não sei quantas mais vieram. Acordei no sofá da sala, ainda com a roupa da festa, e aquele gosto de "cabo de guarda-chuva" na boca. Que nojo, não tinha o hábito de me embebedar. Só depois de um banho e um café quente e amargo é que as lembranças começaram a voltar à minha mente.
Foi como se tudo acontecesse novamente... a não ser pelo fato de estar só, e estar nua.
Meus dedos foram muito úteis na reconstituição da cena, ou melhor, das sensações, e eu pude terminar o que começamos na festa. Só lamentava ter feito isso sozinha.

Não lamentei por muito tempo. A campainha tocou, fui atender.

- Srta Luna Echant?

- Sim, sou eu.

Era da floricultura. Um botão vermelho, solitário, com um cartão.

"Eu disse que te encontraria, não disse? Almoça comigo?
Beijos, Amanda."

Se eu aceitei? O que você acha?

E você... aceitaria?

Um comentário:

livio disse...

eu aceito!!!